Eram 11h da manhã mas o sol nem tava uma lua. Seguíamos andando na Rua de Santa Rita entre os carros, motos, carroças e gente apressada demais pra se cruzar o olhar. Entra numa loja, entra em outra, “bom dia”, “boa tarde”, “já é boa tarde?”, “não apresse a vida, moço”, deu vontade de responder. Seguíamos pelos paralelepípedos, desviando do “pesado”. “A gente devia ensinar pirro a falar paralelepípedo”, disse mainha e a gente riu. Fiquei lembrando de quando eu que era a pirra e falava “que cidade linda, mamãe” nos nossos passeios pela Conde da Boa Vista, Guararapes, Rua das Calçadas.. como eu gostava daqueles passeios, como aquela cidade me encantava. Talvez eu tenha tomado gosto por viver os “centros” nessa época. Seguíamos andando, desviando do pintinho amarelinho, da peppa e do super cortador de garrafa, “olha que casa linda” e uma simples olhada pra cima transporta a gente pra outro espaço de tempo, outro ritmo, outros desejos. De repente, aqueles casarios me abraçaram e tudo fez um sentido que há tempos não fazia. A cidade tava linda e o centro tava ali diante de mim pedindo minha calma, meu olhar. E assim seguimos, olhando e sem precisar desviar das casas, dos azulejos, dos arabescos, dos vestidos de princesas-bebês da Rua da Penha, das palmeiras que cresceram, da tapioca chinesa (ou era japonesa) e da vendedora com a voz mais alta da cidade e do Pátio do Livramento que mainha quer fazer um arraial. A cidade é só uma questão de querer: uma olhada pra cima, ou pro lado e um monte de coisa pode se tornar mais do que um desvio.
E eu queria ter feito essa foto.
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