9h47, mormaço, rua da palma. sento num banquinho, peço uma água de coco. 2 reais. na praia tá quanto? 6? não tá boa, mas não tá ruim. a vida ou a água de coco? uma senhora fala sem parar com o vendedor que assiste o jogo do brasil na televisão sem som da loja de eletrodomésticos ao lado. um rapaz passa distraído, tropeça, quase cai, ri de si mesmo, continua andando distraído. penso no que tá fazendo ele olhar pra um lugar longe dalí. uma mulher atravessa a rua com uma caneca de café. uma moto passa rápido ao lado dela. ela acelera o passo e o café respinga no braço. deve ter queimado. ela franze a testa e grita: "mai é um arrombado mermo". a moça da barraca de capinha de celular dá uma gaitada, daquelas estridentes, que faz todo mundo ao redor rir, mesmo sem saber do que se trata. não tem mais água no coco. mas continuo ali, sentada, como se não quisesse reagir a correria. por 10 minutos queria só ver a vida passar. coloco o fone de ouvido. a vida começa a passar como um filme mudo. a senhora continua falando sem parar, o moço continua assistindo o jogo. reclama do juiz ou acho, não tô ouvindo mais nada. só jorge ben dizendo que conquistaria você, moça. eu conquistaria você, moça, moça. eu conquistaria você, moça. sorte dessa moça. ou não, talvez. talvez ela queira só ficar de boa, sentada, tomando água de coco ligeiramente amarga. é, não tava bom o coco. a vida talvez esteja um pouco melhor que ele. 12% de bateria. mas queria continuar ouvindo música. levanto do banquinho pra uma mãe sentar com um bebê. ele sorri pra mim sem dente e cheio de baba. lembro do meu filho. dobro a esquina da rua das flores. tem um papai noel dançando passinho e um hulk azul. achei que era piada quando ele me disse que existia hulk azul. rua da concórdia, o suor escorre no meu pescoço. que mormaço. compro uma água de 1 real. procuro um controle remoto universal. tava caro demais na primeira barraca. tava barato demais na segunda barraca. a terceira barraca era de uma mulher. tenho preferido comprar com mulheres. "esse serve pra tudo moça, você vai controlar tudo. menos sua vida". "menos sua vida". ficou ecoando junto com Gal dizendo que vira areia quando você olha pra ela. dobrei e na esquina da rua frei caneca uma cigana quis ler o meu destino. falei que tinha um controle remoto universal na bolsa.
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PRISCILLA
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