PRISCILLA
BUHR
RE.POUSO
"De um exílio passado entre a montanha e a ilha
Vendo o não ser da rocha e a extensão da praia.
De um esperar contínuo de navios e quilhas
revendo a morte e o nascimento de umas vagas.
De assim tocar as coisas minuciosa e lenta
e nem mesmo na dor chegar a compreendê-las.
De saber o cavalo na montanha.
E reclusa traduzir a dimensão aérea do seu flanco.
De amar como quem morre o que se fez poeta
E entender tão pouco seu corpo sob a pedra.
E de ter visto um dia uma criança velha
Cantando uma canção, desesperando,
É que não sei de mim.
Corpo de terra."
Passeio - 20, Hilda Hilst
Re.Pouso é um micro-conto fotográfico sobre o desalojamento do corpo materno. Um ensaio que nasce da instabilidade de não se pertencer, de não habitar a si. O corpo-mãe, que nutre, cuida, em contraponto a um corpo-mulher intocável, indesejável, solitário. Re.Pouso é uma carta para um corpo que deseja o desejo apesar do desamor.
Neste trabalho, volto o olhar para a vastidão de um corpo em metamorfose: corpo-mãe, corpo-mulher, corpo-território. Escrevo Re.Pouso como quem dispõe pistas ao longo do caminho. Decifra-me. Devora-me. Toda. Deixo vestígios de um corpo buscando sentido não apenas para o outro, mas sobretudo para mim mesma. Re.Pouso é carta, rastro, secura e sangue. É fluido e fissura. Uma tentativa de repousar onde já não há chão.



